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08/03/2017 17:10

No Carnaval Ouro Negro 2017, animação foi a palavra de ordem

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Foto: Walmir Cirne
Sem dúvida, a grande motivação do Carnaval da Bahia 2017 foi o tema em homenagem aos 50 anos do Tropicalismo. A decoração especial parece ter dado o tom com muitas cores e elementos que referendam o movimento cultural. Em vários pontos do centro da cidade, a disposição de bonecões fazendo referências ao movimento cultural (tropicalismo) marcou a decoração de materiais e texturas diversas com sabor musical.

E a animação marcou esses seis dias de folia do Carnaval da Cultura. Música, dança, alegria e descontração fizeram parte desse breve cotidiano que deixou gosto de quero mais. Isso pode ser percebido desde o primeiro dia com a expressão da diversidade negra ao longo do Circuito Osmar.

O samba e a levada dos tambores foram as palavras de ordem para quem foi à rua em busca de um som mais cadenciado e alinhado com suas raízes de origem africana. Os blocos da Capoeira, Bankoma, Pagode Total, Milenar e Quero ver o Momo deram uma mostra inicial da riqueza do Carnaval Ouro Negro 2017.

Símbolo da religiosidade de matriz africana em Lauro de Freitas, o Bloc Afro Bankoma levou para a avenida o ritmo da levada, embalando cerca de dois mil associados, representantes de 350 terreiros de candomblé, apresentados em alas de dança, atraindo a atenção de todos durante o percurso. O tema deste ano foi “O Makoa Ma Hongolo Mala Maso Neka Ku Maulu”, saudação na língua quicongo que significa “As cores do arco-íris estão escritas lá no céu”. O Bankoma é o único bloco afro de fora de Salvador a participar do Carnaval.

A animação seguiu como palavra de ordem no Campo Grande com os blocos de samba, como o Alerta Geral, Alvorada e Reduto do Samba, que com seus quase três mil foliões foram animados pelo Grupo Harmonia do Samba. O Bloco tem origem na década de 1950 com uma escola de samba chamada “Filhos do Tororó”. Ao longo do tempo, a estrutura foi se modificando e tendo nomes diferentes, até que, finalmente, surgiu o Reduto do Samba no formato atual que conta com o apoio do projeto Carnaval Ouro Negro, da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, coordenado pelo Centro de Cultura Populares e Identitárias (CCPI).

A programação do Ouro Negro teve também o brilho dos blocos infantis. Entre os destaques, o Bloco Pequeno Príncipe de Airá, com o tema “Ibeji - No mundo das Crianças”, desfilou com cerca dois mil foliões, entre crianças e responsáveis. O bloco mostrou na avenida um repertório recheado de canções criadas pelo projeto desenvolvido no terreiro de candomblé Ilê Axé Obainã, no bairro de São Caetano. Famílias inteiras saíram no bloco, animadas pelo grupo musical Unjira.

Na trilha da alegria, o Bloco da Saudade não poderia faltar. O exemplo de toda a animação estava nos seus 1.500 associados, a maioria pessoas idosas na faixa etária entre 60 e 90 anos. Embalados por muito saudosismo, desfilaram dois dias no Circuito Osmar (Campo Grande), ao som das inesquecíveis marchinhas e dos sambas que resgatam antigos carnavais. A percussão e o sopro deram o tom do bloco fundado em 1986. Esse foi o 31º carnaval do Bloco da Saudade.

Dentre as novidades, o Bloco Didá desfilou no Circuito Osmar (Campo Grande) e contou com quase duas mil mulheres da entidade carnavalesca. Elas levaram toda a beleza feminina e alegria para a avenida. Diante do sol foi possível apreciar melhor a passagem do bloco dividido em três alas: baianas, dançarinas e percussão. A banda formada por 14 mulheres percussionistas tocou sucessos da música baiana e os pagodes da atualidade. Fantasias coloridas incrementadas de adereços dourados e muita palha foram baseadas no tema “Real, Realeza. Toda mulher negra é uma rainha quilombola”.

A diretora de projetos Vivian Caroline, reafirma que o principal propósito do bloco é reforçar o empoderamento feminino. “Fomos o primeiro bloco a trazer para o Carnaval de Salvador a discussão sobre o papel da mulher na sociedade. A mulher é uma força de pensamento e usamos o Carnaval para entoar bem forte esse nosso grito. Hoje todas nós somos negras e rainhas quilombolas na luta pela igualdade de direitos”, destacou.

A folia esquentou no Campo Grande com a passagem do Bloco Vem Sambar. A expressão “A arte de sambar” no colorido abadá do bloco representa a originalidade e o molejo dos seus associados. Com dez anos de história, a agremiação traz para o Circuito Osmar grandes atrações musicais, as Alas das Baianas e dos Sambistas da Velha Guarda. O Vem Sambar mantém um projeto social com foco na educação ambiental. Vale lembrar que a entidade surgiu de uma brincadeira entre amigos e atualmente é uma das grandes atrações do Carnaval Ouro Negro.

Já o Malê Debalê este ano homenageou o sertão. Considerado o maior balé afro do mundo, pela revista New York Times, o bloco afro entrou na avenida com o tema Sou Sertanejo Negro Forte, para referendar a influência da cultura negra no semiárido brasileiro. Com 38 anos de existência, a entidade faz parte do Carnaval Ouro Negro e tem como carro chefe o balé que muito encanta quem assiste a sua passagem no circuito.

E foi grande a expectativa com o colorido das fantasias reluzindo a ancestralidade africana e a estética na passagem do Bloco Afro Muzenza do Reggae. Conhecido por abrir as portas para os adeptos dos cabelos dreadlocks, o Muzenza conduz a massa no balanço do samba-reggae há 37 anos. Com o tema do Afrofuturismo, o bloco inova ao dialogar com as novas tendências, conforme as palavras do seu presidente, Jorge Santos.

Todos os dias a criançada esteve nas ruas. O Bloco Ibeji há 23 anos oferece a crianças, adolescentes e adultos vindos de bairros populares, a oportunidade de brincar o Carnaval. Dono de títulos importantes como o bicampeonato do Troféu Dodô & Osmar (2010 e 2011), hoje é uma possibilidade de lazer para a população infanto juvenil de Salvador. O Ibéji nasceu com a finalidade de ser uma proposta alternativa para melhoria da qualidade de vida de crianças carentes da comunidade Santa Rita, em Brotas.

Outra grande atração infantil da folia este ano foi o Bloco Mamulengo fazendo a alegria de crianças e adultos. O nome remete ao Carnaval de Olinda, e bonecos gigantes, crianças e adultos se misturaram no circuito do Campo Grande. Bonecões travestidos de figuras ilustres como Lampião, Carmem Miranda e da Nega Maluca encantaram a todos por onde passaram com seu colorido e postura cambaleante. Acompanhados pela banda de sopro e percussão Mamulengo da Bahia, os foliões se divertiram do início ao fim do percurso.

Este ano, o Bloco Commanche do Pelô teve como tema “Bahia indígena a oitava maravilha do mundo”, para lembrar da importância e da beleza da influência indígena na cultura baiana. Cerca de dois mil foliões acompanharam o bloco no Carnaval Ouro Negro, formando alas de dançarinos e fantasias. O Commanche é o único bloco de índio que ainda desfila no Campo Grande e ainda resiste no carnaval de Salvador.


OS FILHOS DE GANDHY
E o Gandhy não pediu só paz. “Diáspora Africana – a travessia não me abalou, tornou-me forte” foi o tema do Afoxé Filhos de Ghandy no carnaval 2017. A ideia da entidade foi falar sobre a resistência do povo negro no Brasil desde quando foi trazido do continente africano, e seguiu se reinventando. O grande tapete branco saiu com a presença do homenageado Gilberto Gil e outros famosos como o ator Lázaro Ramos.

E a importância do engajamento feminino foi enfatizado mais vez no Carnaval Ouro Negro. Com o tema “Mulheres empoderadas desfilando na avenida” o Afoxé Filhas de Gandhy completou 37 anos de tradição no Carnaval de Salvador. Ao todo, foram 800 associadas puxadas pelas alas das baianas e capoeiristas, embaladas por um cortejo de percussionistas, todas mulheres. A produtora cultural da entidade, Franciene Simplício, explica que o afoxé também faz uso do Carnaval para protestar contra a violência à mulher na folia.

Também causou impressão o desfile do Bloco Banana Reggae que veio com uma ala de mulheres quilombolas usando panos africanos e bandeiras de países afro-latinos. Desde 1995, o bloco leva o ritmo jamaicano para a avenida.

O Bloco Afro Mundo Negro homenageia Gana, país do oeste africano. A dança, a indumentária e a música, certamente, são os principais símbolos que representam a grandeza do Mundo Negro. Com apoio do Carnaval Ouro Negro, desfilou com quatro alas formadas por 400 integrantes e trouxe o tema “Gana, o Rei do Ouro”.

Apesar das dificuldades, o presidente da agremiação Roberto dos Santos ressalta a importância de se manter firme e forte com o propósito social e cultural desde sua fundação, em 1990. A maioria dos integrantes é formada por jovens com idade entre 19 a 30 anos, fruto do trabalho social realizado durante todo o ano no bairro do Beiru, de onde fica a sede do Mundo Negro.


CARNAVAL DA CULTURA
O Carnaval da Cultura é o carnaval da democracia e da diversidade e do folião pipoca, que leva para as ruas, durante todos os dias e circuitos da folia, a mistura de ritmos e gêneros musicais e, principalmente, a estética e a arte de diferentes artistas, grupos e entidades culturais da Bahia. São centenas de atrações e shows gratuitos de afoxé, samba, reggae, axé, pop, MPB, fanfarras e muito mais. É diversão garantida para todos os gostos e estilos no espaço público da rua para alegria do folião. O Carnaval da Cultura – uma realização da Secretaria da Cultura do Estado da Bahia, por meio do Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI) – está organizado a partir de quatro programas: Carnaval do Pelô, Carnaval Pipoca, Carnaval Ouro Negro e Outros Carnavais. A programação completa de nossa festa está disponível nos sites www.cultura.ba.gov.br e www.carnaval.bahia.com.br.
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