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30/11/2017 12:30

Portal é lançado com o mapeamento de 69 terreiros de Religião de Matriz Africana

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Foto: Lucas Rosário/Ascom SecultBA


Lançado sábado (25), no Ilè Asè Oyà Tolà, em Candeias, e na quarta-feira (29), na Câmara Municipal de São Francisco do Conde, o portal Espaço Sagrado (www.espacosagrado.org.br) apresenta o mapeamento de 69 terreiros da Região Metropolitana de Salvador (RMS), sendo 40 localizados no município de Candeias e 29 em São Francisco do Conde. Reúne dados de diversas nações de religiões de Matriz Africana e apresenta mapas temáticos, com a localização e coordenação geográfica de todos os terreiros mapeados. No site é possível encontrar as histórias de fundação de cada casa religiosa e apresenta o perfil das respectivas lideranças religiosas.

Após seis meses de pesquisa de campo, mobilizando os terreiros da região, o portal contém textos, registros fotográficos, o georreferenciamento dos Terreiros, legislação, links e orientações sobre os direitos e proteção das religiões de matriz africana, frente aos processos de violência e intolerância religiosa.

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Foto: Lucas Rosário/Ascom SecultBA

Isto também possibilita o registro histórico destas casas, além de assegurar uma memória documental importante para as religiões de Matriz Africanas, ainda perseguidas no Brasil. O portal lançado é fruto de um trabalho interdisciplinar, que reúnem agentes e pesquisadores de diversas áreas.

Para Maurício Reis, um dos idealizadores, o projeto quer fortalecer e preservar a cultura afro brasileira, a partir dos espaços sagrados dos terreiros de candomblé. Tem um viés político, pois o levantamento das especificidades destas casas fundamenta as reivindicações para o diálogo com o poder público, disse. Outro aspecto ressaltado por Reis aponta para o fortalecimento das nações a partir do empreendedorismo. Segundo ele, foi verificado que no contexto das 69 casas mapeadas poderá ser criada uma rede de produção e distribuição, sem que seja necessário ir adquirir em Salvador. “Cada casa tem um potencial, algumas cultivam ervas medicinais, outras criam animais de pequeno porte, algumas se destacam com a costura, o bordado richelieu... Assim, o Portal Espaço Sagrado visibiliza as culturas produzidas por estes terreiros, fortalecendo a economia solidária”, afirmou.

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Foto: Lucas Rosário/Ascom SecultBA

O projeto apoiado pela Secretaria de Cultura da Bahia (SecultBA) foi contemplado no Edital Setorial de Culturas Identitárias-2016, do Fundo de Cultura da Bahia (FCBA). Nasce como uma ferramenta de ação importante no combate da intolerância religiosa e no fortalecimento da comunidade negra.

O superintendente de Promoção da Cultura, Alexandre Simões, afirmoa que o projeto revela a implementação de uma política pública na área da cultura, chegando aos povos de terreiros. Para ele, o projeto embrionário se torna ainda mais peculiar, por conseguir ter uma equipe, de filhos, filhas e adeptos das religiões de Matriz Africana de Salvador e Região Metropolitana, com as competências e a visão, necessárias para atuar em um projeto tão robusto. Revela o protagonismo de todas estas casas como agentes vivos e combativos, que muito podem colaborar para o desenvolvimento cultural, histórico e econômico, afirmou.

A iniciativa apoiada preserva os princípios fundamentais da Lei 13.182, que institui o Estatuto da Igualdade Racial e de Combate à Intolerância Religiosa do Estado da Bahia. Para Simões, a importância do Governo da Bahia, por meio da Secretaria de Cultura em apoiar comunidades culturais e Identitárias além do combater o racismo e a intolerância religiosa, cria mecanismos de empreendedorismo criativos, nos povos de terreiros, acrescentou.

A Associação dos Amigos do Ilê Axé Oyá Tolá, localizada na Rua da Escola, nº 57, no distrito de Passagem dos Teixeiras, no município de Candeias, foi fundada em 2002. É uma entidade sem fins lucrativos e tem como objetivo a defesa da diversidade cultural, através do combate às desigualdades sociais, cultural e econômica. A associação promove e realiza ações sustentáveis que contemplem a melhoria da qualidade de vida dos povos, através da prestação de serviços à comunidade de Passagem dos Teixeiras, além de atendimentos com profissionais na área de odontologia, educação, e projetos específicos para crianças e adolescentes.

Em 2014, o documentário IGI OBA NILE “Memórias de Mãe Raidalva” foi lançado apresentando a história da ialorixá que contribui na luta do povo de terreiro e das mulheres negras, com a fé nos Orixás. Dirigido por Diosmar Filho e Chico Soares, foi contemplado no Edital 25/2012, da Secult, com o acompanhamento do Centro de Culturas Populares Identitárias (CCPI-SECULT). O link do filme está disponível na internet por meio do endereço eletrônico https://vimeo.com/116719662.

Falando para os filhos, filhas, representantes de outras casas, lideranças religiosas, além de autoridades, a ialorixá do Terreiro Ilê Axé Oyá Tolá e presidente de honra da Associação, Mãe Raidalva Silva dos Santos, emocionou a todos ao reverenciar o sagrado cantando para Oyá, protetora da casa e senhora dos caminhos. Encerrou a cerimônia profundamente agradecida, e fez um pedido: - “O povo de axé não pode se dispersar. Quanto mais nos dispersamos, mais estamos só”, afirmou.
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