Notícias

02/03/2020 15:50

Carnaval do Pelô se mantém forte, diverso e democrático

fwfwe
Foto: Almir Santos

O folião do Carnaval do Pelô sabe muito bem o que quer. Uma opção que mesmo tão perto da avenida parece longe dos grandes circuitos, por tudo o que oferece de diferenciado em termos de segurança, das possibilidades de brincar a folia. Há sempre muita diversidade de atrações que reúnem tantos públicos que se diverte junto e conserva o real espírito carnavalesco, baseado no respeito ao espaço do outro e na cultura da paz. O Governo do Estado, mantendo a política de dinamização dos espaços do Pelourinho, realizou por mais um ano este projeto que integra o Carnaval da Cultura, da Secretaria de Cultura da Bahia, e que contou com a parceria da Bahiatursa.

Mesmo acontecendo sem os grandes trios, o Carnaval do Pelô não deixou de lado a homenagem promovida este ano pelo Carnaval da Bahia, que adotou como tema para 2020 os 70 anos do Trio Elétrico. A noite de abertura oficial da folia no Centro Histórico, que aconteceu na sexta-feira (21), trouxe a Banda Armandinho, Dodô e Osmar. Herdeiros de Osmar, que ao lado de Dodô realizou o invento que revolucionou nosso carnaval, os irmãos promoveram uma grande celebração ao “Setentrio” no palco principal, no Largo do Pelourinho. Para reforçar a homenagem, a noite contou também com show de Moraes Moreira, um dos percussores da axémusic e que tanto contribuiu para a consolidação desta cultura do trio elétrico.

Para a secretária estadual de Cultura, Arany Santana, contar esta história é de fundamental importância. “A nova geração precisa conhecer um pouco mais sobre a história tão importante do trio elétrico, pelo seu significado para a própria história do Carnaval da Bahia. Outros movimentos surgiram a partir disto, como a axé music, que sofreu muita influência. Nomes como os Novos Baianos criaram canções adequadas para o trio elétrico. É a memória, a história do carnaval, da vida da gente e que atravessa épocas”, afirma.

Como parte das homenagens, a Fobica original de 1950, que é considerado o primeiro trio elétrico e foi uma invenção de Dodô e Osmar (pais também da guitarra baiana), permaneceu exposta durante a folia no Largo do Cruzeiro de São Francisco. Milhares de visitantes do Centro Histórico não perderam a oportunidade de registrar fotos ao lado deste símbolo da história do Carnaval da Bahia.

A sede do Centro de Culturas Populares e Identitárias – CCPI/SecultBA (Casa 12, Largo do Pelourinho) transformou-se durante o carnaval na Casa Dodô e Osmar. Nela um painel com uma linha do tempo contava a história do trio elétrico, desde sua invenção em 1950, passando pela Caetanave em 1972, a ascensão da Axé music na década de 1980, até chegar 2020. A sala de imprensa da SecultBA no local recebeu o nome de Orlando Tapajós, construtor de trios elétricos icônicos que deram origem ao modelo atual, e que deixou seu legado para a folia.

O Carnaval do Pelô apresentou números que demonstram que a folia no Centro Histórico segue fortalecida. Foram 145 horas de música distribuídas em 85 shows ocorridos em quatro palcos, que trouxeram estilos diferenciados, como o samba, o reggae, a música afro, sinfônica, axé music, o arrocha e até mesmo o rock. Adiciona-se 40 horas de desfiles de microtrios e nanotrios em torno do Terreiro de Jesus, trazendo diversas sonoridades e inventividade no estilo de cada um. No sobe e desce das ruas do Pelô, foram mais de trinta desfiles das bandas e grupos de performances dedicados a manter a tradição dos bailes de carnaval ao ar livre, com muitas marchinhas que os foliões acompanharam no vai e vem do Centro Histórico, muitos deles vestindo fantasias e espalhando espuma e confetes.

O diretor do CCPI/SecultBA, André Reis, concorda que a diversidade faz toda a diferença. “Trazemos uma proposta de democratização para dentro do carnaval, que nos permite construir uma programação diversa com estilos diferenciados, o que atrai mais visitantes”, declara o gestor, que ainda ressalta outro aspecto muito importante, que é a segurança. “Sem dúvida alguma nosso circuito é o mais seguro, com zero ocorrências. O nosso carnaval tem objetivo de atrair não só os jovens, mas as famílias, e construir a relação de pais e filhos com a folia”, afirma.

Selecionados pelo Concurso Carnaval do Pelô 2020, nove Projetos Três Artistas foram destaque no palco principal da folia. Encontros memoráveis entre gerações e estilos diferentes tornaram cada noite memorável para o público. O “Baile de Todos os Transes” reuniu Ava Rocha, Leo Cavalcanti e Negro Léo. Homenageando nosso eterno maluco beleza Raul Seixas que neste ano completaria 75 anos, o show “RAUL 75” reuniu Bruna Barreto, Irmão Carlos Psicofunk e Orí. Numa celebração aos diversos carnavais do Nordeste, com destaque para Bahia e Pernambuco, o projeto “Pelô Nordeste” teve Janaina Carvalho, Lala Carvalho e Pedro Rosa Moraes. Cantando a história dos carnavais “De Chiquinha a Moraes”, Juliana Ribeiro, Morotó Slim e Peu Meurray marcaram o domingo de carnaval. A espiritualidade e a música de matrizes africanas foram exaltadas em “PRADARRUM – Saudação às Matriarcas”, por Gabi Guedes, o griô senegalês Doudou e a cantora brasiliense Nãnan. Samba no pé não faltou no show de Luciano Salvador Bahia, Simone Motta e Mazzo Guimarães, “Eu Sambo Mesmo”.

O último dia de carnaval reuniu um grande mestre da cultura popular, Bule Bule, ao cantor e compositor santamarense Roberto Mendes, e representando a nova geração, Josyara, para o projeto “Som Interior – Trovas Violadas de Uma Bahia Profunda”, que promoveu uma folia das violas. Cantando em homenagem às mulheres, o Tribass formado por Luciano Calazans, Alexandre Vieira e Cesário Leoni apresentaram “Ivetes, Maria Brasileira”. E encerrando oficialmente a programação do Centro Histórico, a voz da Bahia, Lazzo Matumbi, se reuniu a Duda, vocalista do Diamba, e a banda Skanibais, formando a “TRIUNIDADE”.

O Concurso Carnaval do Pelô da SecultBA selecionou para os palcos dos largos Pedro Archanjo, Tereza Batista e Quincas Berro D’Água espetáculos das diversas modalidades, divididos por gêneros, e ainda Orquestras, que trouxeram o clima saudoso dos antigos bailes de carnaval, mas também propostas novas, como a Orquestra Reggae de Cachoeira. O Largo Pedro Archanjo ainda foi, por mais um ano, espaço dos bailes infantis, que promoveu muita música, ludicidade, brincadeiras, e serviços como pintura facial e pulseirinhas de identificação. As atrações infantis foram os grupo CadeiradeBrin, Pé de Lata, Gatos Multicores e PUMM – Por um Mundo Melhor. Assim, os largos foram espaços para a diversão das diferentes gerações, de todas as tribos, identidades, gostos e culturas. Samba do Vai KemKé, Bailinho de Quinta, Vandal, Banda Cativeiro, Mr.Armeng, Júlio Caldas e Escola de Música Irmãos Macêdo foram algumas das atrações.

Claro que no ano se comemora o “Setentrio”, a farra dos microtrios e nanotrios foi ainda mais especial. Projetos como o microtrio da Banda Marana não deixaram a ocasião passar em branco, trazendo uma homenagem à “tribo mística” formada por Dodô, Osmar e todos os que fazem parte desta história, como os Irmãos Macêdo. Também desfilaram ao longo da folia os microtriosTukTuk Sonoro, Los Cuatro, Rural Elétrica, Buteco Elétrico e o Microtrio Ivan Huol – Em Águas, que trouxe uma mensagem de preservação dos bens naturais. Enquanto os microtrios contam com a força dos motores, os nanotrios dependem da propulsão humana para desfilarem, mas, quando o assunto é irreverência e criatividade musical, não há diferenças entre eles. Um dos nanotrios mais tradicionais na folia e que não poderia faltar é o Rixô Elétrico, que apresenta clássicos e resgata a essência da origem dos trios elétricos, sob comando de Fred Menendez. O carrinho musical empurrado com o pedal de uma bicicleta ganhou este ano uma roupagem que fazia referência à Fubica de Dodô e Osmar. Outros nanotrios que agitaram o folião pipoca nessa relação de troca e proximidade foram Bike Axé, Pelô Bossa Reggae e Coletivo Di Tambor.

Nas ruas, o folião ainda brincou muito com as bandinhas de percussão, de corda de percussão, e de sopro e percussão, os bandões, e os grupos de performances, que foram selecionados também via concurso para manter esta tradição tão querida e que atrai tanta gente para o Centro Histórico. Famílias tem a oportunidade de apresentar aos seus filhos um carnaval das antigas que permanece sempre atual, não deixando de encantar as diversas gerações.

O Carnaval do Pelô é integrado ao Circuito Batatinha, por onde ainda desfilam diversos dos blocos afro e afoxés selecionados pelo programa Carnaval Ouro Negro, que também é parte do trabalho do Governo do Estado. A cada caminho que você toma é surpreendido pelo estrondo de tambores, pela celebração da cultura e religiosidade de matrizes africanas, por alas de dança formadas por pessoas de comunidades e trabalhos sociais que se dedicam o ano inteiro para viver este momento único. E também grandes blocos como o Olodum e o Afoxé Filhos de Gandhy, que são entidades pertencentes a esta comunidade, abrem no Pelourinho os caminhos para a folia antes de seguir até a avenida.

Assim, o Pelourinho reafirma-se como cenário do Carnaval da diversidade, e também, da liberdade. Ser livre para curtir junto com seus amigos ou com sua família, sabendo que todo mundo ali está para se divertir e trocar boas energias. Para poder vestir sua fantasia, se expressar, brincar e sorrir. Para escolher que gênero musical te representa e te diverte no carnaval. O maior resultado que se alcança é mostrar que o carnaval deve ter esse espírito da paz e felicidade, e que folia é sinônimo de união. Em 2021 tem mais Carnaval do Pelô!

Confira a cobertura fotográfica completa através do Flickr do Carnaval da Cultura: https://www.flickr.com/photos/carnavalcultura20/
Recomendar esta notícia via e-mail:

Campos com (*) são obrigatórios.