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05/03/2014 01:16

Ouro Negro celebra a força da matriz africana no carnaval de Salvador

Gilberto Gil no Gandhy001_Ft Edson Ruiz

"Meu Deus do céu, na terra é carnaval / Chama o pessoal / Manda descer pra ver / Filhos de Gandhi", esse foi o pedido, em forma de canção, do mestre Gilberto Gil, ícone consagrado da música popular brasileira que, todos os anos, é uma das atrações do afoxé Filhos de Gandhi, uma das 104 entidades que integram o Carnaval Ouro Negro, programa de fomento da Secretaria de Cultura voltado para entidades de matriz africana. Em cima do trio do Gandhy e ao lado do maestro Letieres Leite, da Orkestra Rumpilezz, nesta terça-feira, Gilberto Gil renovou sua ligação histórica com o carnaval da Bahia, que em 2014 deu destaque à cultura negra com o tema: "40 anos de Blocos Afro".

A passagem do afoxé Filhos de Gandhy, que além de Gilberto Gil, foi animado pelo cantor Aloísio Menezes, marcou a terceira noite do Afródromo no Campo Grande. Foram três noites e cerca de 30 entidade entidades desfilando em horário mais dgno, com presença da imprensa e um público interessado. Na última noite de carnaval, o "tapete branco da paz" foi seguido pela sua versão feminina, o afoxé Filhas de Gandhy, conduzido pela cantora Savannah Lima. Depois vieram os blocos afro Muzenza, Olodum e o Ilê Aiyê, além de outras entidades que celebram as heranças ancestrais africanas em nossa cultura.

No Carnaval em que os 40 anos dos blocos afro foram o tema oficial do Carnaval de Salvador, o Carnaval Ouro Negro foi um dos grandes destaques da folia, com 104 entidades carnavalescas dos segmentos afro, afoxé, samba, reggae e índio, sendo a maioria de matriz africana. Juntas, desfilaram com cerca de 10 mil artistas, incluindo músicos, dançarinos e percussionistas. Isso sem contar o grande número de foliões que festejaram os 65 anos do afoxé Filhos de Gandhy, os 45 anos do Apaxes do Tororó, os 40 anos do primeiro bloco afro, o Ilê Aiyê e do Commanche do Pelô, os 35 anos do Olodum e do Malê Debalê, os 20 anos da Didá e do bloco de samba Alerta Geral, além dos 15 carnavais do Cortejo Afro.

Aliado a essas comemorações, o carnaval deste ano ganhou três noites de desfile do Afródromo, reunindo cerca de 30 entidades, boa parte delas integrante do Carnaval Ouro Negro. "Com o Afródromo, estes blocos, já valorizados pela Secretaria de Cultura do Estado desde 2008, com o Ouro Negro, passam a ter uma voz poderosa. Eles podem, a partir disso, ter uma interferência maior nesta festa", afirmou o secretário estadual de Cultura, Albino Rubim. Carlinhos Brown, idealizador do Afródromo, disse que "hoje, estamos dirigindo para que os grupos sejam respeitados pela força cultural que eles têm. Vamos sair da Avenida em direção a um trabalho anual nas comunidades".

"O Carnaval Ouro Negro abraça grupos e entidades culturais que, além do carnaval, desenvolvem trabalhos sociais e culturais em suas comunidades", afirma a diretora do Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI) da SecultBA, Arany Santana. Os foliões apreciaram a beleza e a musicalidade de grupos como o Ilê Aiyê, que fez um dos mais emocionantes desfiles deste carnaval no circuito Mãe Hilda Jitolu, na Liberdade, na noite de sábado, ou o bloco Apaxes do Tororó, que se mostrou renovado, no domingo, trazendo de volta a bateria com cerca de 300 músicos e compartilhando o desfile com os índios baianos das tribos Tuxá, Pataxó, Kirirí e Kaimbé e, ainda, com uma das representações da cultura do índio na Amazônia, o Boi Garantido.

Além de Gilberto Gil no trio do afoxé Filhos de Gandhy, o Carnaval Ouro Negro também trouxe estrelas de forte apelo popular para a Avenida. Artistas como Dudu Nobre, Diogo Nogueira, Mariene de Castro, Gabby Moura, Délcio Luís, Reinaldo, Raimundo Sodré, Roberto Mendes, Aloísio Menezes, É o Tchan, Harmonia do Samba, Fundo de Quintal e o Grupo Revelação animaram mais de 50 mil foliões nos cerca de 20 blocos de samba. "Estou muito feliz pelo samba ter invadido o carnaval de Salvador", destacou o cantor e compositor Nelson Rufino.

Desde 2008, O Carnaval Ouro Negro vem estimulando e ampliando a visibilidade e a recuperação estética de entidades de matriz africana. "A entrada do Ouro Negro na administração do Alvorada, nos deu base para aumentar a qualidade e produção em torno dos produtos e serviços que necessitamos para o Carnaval. Inclusive, fomentou o até o interesse das empresas privadas pelos blocos de samba", disse Vadinho França, presidente do bloco Alvorada, que este ano completou 39 anos.

No ano em que comemoram seus 40 anos, os blocos afro atraíram um grande público nos quatro circuitos da folia, incluindo o circuito Mã Hilda Jitolu, que celebrou a passagem do Ilê no sábado de carnaval. "O desfile dos blocos de matriz africana é o que nos motiva a sair de casa, vir para o Carnaval e ficar aqui até mais tarde. Os desfiles dos blocos afro são a reocupação do espaço que é nosso", conta Marcos Santos, 52 anos, gaúcho radicado na Bahia há nove anos, acompanhado de mais sete pessoas.

Para Carolina Costa, 32, é emocionante poder rever os desfiles de blocos afro e de samba no Campo Grande. Ela esteve fora do carnaval por três anos disse estar surpresa com a melhoria e organização dos desfiles. "Tudo muito bonito de se ver. A gente lava a alma", fala emocionada com a passagem do Afródromo no Campo Grande. É o Carnaval Ouro Negro, qualificando a presença negra no carnaval, ao aliar o amor pela tradição à paixão despertada por novas estrelas da música.

O download das imagens em alta pode ser feito neste link:

http://www.flickr.com/photos/secultba/
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